O domingo de Páscoa foi marcado por dor e tristeza para a família de um
garoto de 4 anos, no bairro da Cabanagem, em Belém. Após ter recebido
chocolates de presente, minutos depois do almoço, a criança saiu para
brincar na companhia de outros amigos da rua. E o que era para ser
apenas uma brincadeira acabou em tragédia. Ao avistarem o portão aberto
de uma estação elevatória de esgoto da Cosanpa, localizado na esquina da
rua Benjamin com rua do Fio, as crianças resolveram entrar. E, no
corre-corre da brincadeira, o menino acabou caindo dentro de uma
cisterna, sem qualquer tipo de proteção.
“Na mesma hora em que o
meu filho caiu, um amiguinho dele foi lá em casa avisar e viemos
correndo para cá. No desespero, eu pulei dentro da água para tentar
retirá-lo com vida, mas foi em vão. Não pude fazer mais nada. O meu
filho já tinha morrido afogado e sumido nessa água suja”, relatou o pai.
A
estação da Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa), onde ocorreu a
tragédia, fica próximo à casa da criança. Segundo familiares, o garoto
era acostumado a brincar na rua, mas nunca tinha entrado no terreno da
estação elevatória de esgoto. “Nós ainda tentamos ajudar o pai do
garotinho, colocando uma escada dentro da cisterna, mas, como o poço era
muito fundo, a nossa tentativa foi em vão”, revelou um amigo da
família.
Homens do Corpo de Bombeiros foram acionados na
tentativa de retirar a criança ainda com vida do local, mas a
profundidade da cisterna, com cerca de 7 metros, e as condições
altamente tóxicas da água foram determinantes para a morte do menino.
“Nós trabalhamos sempre na esperança de retirar a vítima com vida, mesmo
muitas vezes sabendo que isso é quase impossível. No caso do resgate da
criança, todos os indícios levam a crer que ela tenha falecido ao cair
no poço. Mas, mesmo assim, isso não diminui a nossa vontade de
trabalhar. A nossa missão agora é retirar o corpo do local o mais rápido
possível”, relatou o coronel do Corpo de Bombeiros Mario Moraes.
Resgate do corpo durou quatro horas
De acordo com o
coronel, a operação contou com 15 homens de corpo de Bombeiros, a
maioria do 5º Sub-Grupamento SBM, do bairro do Mangueirão. No trabalho
de resgate, foram utilizados a bomba de sucção da própria Cosanpa,
localizada no prédio dentro da estação, e um caminhão hidrojato para
sugar a água da cisterna. “Devido às condições da água do reservatório,
altamente poluída, precisamos que pelo menos metade da cisterna seja
esvaziada para dar continuidade ao nosso trabalho”, explicou o soldado
Gurjão, bombeiro do 5º SBM.
Familiares da criança acompanharam de
perto todo o trabalho de resgate, que durou cerca de quatro horas.
Assim que o corpo do menino foi retirado, os gritos de dor e angústia da
mãe e do irmão da criança ecoaram pelo local.
DENÚNCIA
Muito
revoltados, moradores da área denunciaram que o terreno da Cosanpa não
possui nenhum tipo de proteção tanto em relação a cercas, que são de
arame e em algumas partes do terreno são inexistentes, quanto ao perigo
das cisternas, que não possuem nenhum tipo de tampa ou grade de
segurança. “Desde que eu moro na Cabanagem é assim. A Cosanpa nunca se
preocupou com isso. Várias crianças daqui do bairro são acostumadas a
brincar no local e nada é feito para reverter essa situação”, denunciou
Manuel Ferreira, morador do bairro há mais de 20 anos.
Em
resposta às cobranças da população, o engenheiro sanitarista da Cosanpa
Levi Rodrigues, que esteve na área acompanhando o trabalho dos
bombeiros, disse que a companhia já providenciou várias grades de
proteção para as cisternas e que elas sempre são roubadas e demoram para
ser substituídas. “Fora isso, a Cosanpa também conta com seguranças
particulares em todas as suas estações de esgoto. Aqui na Cabanagem não é
diferente. Existem vigilantes que ficam dia e noite na área, mas
infelizmente não podemos ter o controle de tudo”, alegou o representante
da Cosanpa.
Populares também denunciaram que o vigilante que
estava de plantão no momento do acidente teria se negado a ajudar o
garoto no acidente. “O amiguinho dele gritou e procurou ajuda, mas não
houve nenhuma iniciativa do vigia, que estava sentado dentro da casa que
fica no terreno da Cosanpa”, revelou uma moradora da área. Nem o
vigilante citado pelos populares nem um representante da empresa que ele
trabalha foram encontrados para comentar o caso. (Diário do Pará)
Nenhum comentário:
Postar um comentário